sexta-feira, 18 de junho de 2010

Coincidências do destino - Parte IV

- Olá! Entre, fique a vontade. – Disse Lívia com um doce sorriso.
- Olá Lívia, como está? – Respondeu ele também sorrindo.
- Tudo ótimo! – melhor agora, pensou. – Pode deixar seus materiais em cima da mesa.
- Que apartamento aconchegante. – comentou ele, observando a decoração.
- Sempre quis em ter o meu cantinho e decora-lo a meu gosto.
- Isso é legal. Sabe Lívia, quando te vi sabia que você não era estranha. Aquele dia você me passou seu endereço no papel, mas eu guardei no bolso e nem olhei. Só hoje, quando o peguei para vir pra cá que percebi a coincidência. O escritório da Empresa, fica da rua ao lado do seu prédio, perto da parada onde você pega o ônibus para ir trabalhar todos os dias. E frequentemente eu via quando você ia para a parada!
- Sério, nunca percebi! – disse ela, envergonhada, será que ele ficava lhe observando há tempos? Sim, há tempos...
- Pois é, sou bom de memória viu? – disse Pedro, enquanto procurava suas ferramentas na maleta.
Segura de que não havia passado despercebida pelos olhos de Pedro. Lívia chegou a pensar se da parte dele também haveria surgido algum interesse a mais.
Naturalmente ela abriu a porta do quarto para que ele entra-se com o ar condicionado nas mãos.
Pedro sentiu o cheiro doce do perfume de Lívia estava em todo o quarto. Ele realmente havia sentido algo a mais por ela. Dificilmente ele sairia de casa depois de um dia cheio e cansativo para mais umas duas horas de trabalho. E não era difícil de interessar por uma mulher como Lívia. Tinha cabelos longos, lisos, com mexas loiras, olhos castanhos, boca bem desenhada e um corpo perfeito, no auge de seus vinte e seis anos.

Enquanto ele fazia a instalação, Lívia sentou-se em uma poltrona que ficava ao lado do ropeiro. Não houve um minuto sequer de silêncio. Conversavam como se fossem velhos amigos. Ela o observava enquanto conversavam. Sentia vontade de abraçá-lo forte. Queria receber um carinho, um afago em seus braços.
Mas as palavras trocadas eram de amizade. De amigos que estavam se conhecendo e contando mais da vida um do outro.
Diante disso, ela se sentiu mais a vontade para perguntar por que ele saiu de Vale dos Lírios.
- Desilusão amorosa. – respondeu ele.
- Sei bem como é. Tive uma também há meses atrás.
- Mas o tempo passa e cura tudo. Sei que ainda vou encontrar uma mulher que mereça meu carinho.
“Eu!” - quase disse, mas pensou antes de falar.
- Com certeza, também penso assim. – o telefone tocou e interrompeu a conversa que ia tomar um rumo diferente. – um momento, vou atender.
Dona Mirian queria saber notícias da filha. Lívia contou a novidade sobre o ar condicionado e resumiu os últimos acontecimentos da semana. Na vida de Lívia não acontecia nada de muito interessante nos últimos dias. Mas a chegada de Pedro em sua vida podia-se comparar a uma comida que levava apenas sal e num belo dia ganhou um novo tempero.
O fato de aguardar os dias para vê-lo novamente a deixava entusiasmada. Mas depois da instalação. Como poderiam se encontrar novamente?

- Ficou perfeito! – o clima do quarto realmente havia ficado agradável.
- Que bom que gostou!
- Aceita um petisco? – ofereceu Lívia, uma bandeja com deliciosos salgadinhos que acabara de esquentar.
- Vou aceitar, realmente estou com fome.
- Vou servir um refrigerante pra nós, sente-se. Ofereceu Lívia, apontando o sofá da sala.
Pedro a observava encantado. “Quais seriam seus defeitos” – pensava ele. Parecia tão perfeita. Provavelmente estava buscando ser feliz, não queria entrar em um relacionamento para ficar discutindo coisas banais todos os dias... E era isso que ele procurava. Mas, ele achava que ainda não era a hora de demonstrar isso a ela. Pra não parecer que era algo momentâneo. Ele preferiu aproveitar que eram amigos para conversarem e descobrirem mais sobre outro.
Há tempos ambos não riam tanto, nem contavam tanto sobre suas vidas. Eram muitas as coincidências. Nos gostos, nas desilusões amorosas e nos planos para o futuro.
- O papo está ótimo, mas tenho que ir, afinal amanhã ainda é quarta-feira.
- Certo, - disse ela pegando o cheque que já havia preenchido. - Agradeço pela hora extra, especial pra mim... – a frase ficou com duplo sentido, mas ela não se importava mais...
- Foi um prazer e muito divertido.
Esperando que ele apenas apertasse sua mão ou lhe desse um beijo no rosto, Pedro a puxou para um abraço apertado.
Ela correspondeu e recostou a cabeça em seu peito. O conforto a fez fechar os olhos, como se estivesse em seu travesseiro, na cama para dormir. Mas durou apenas quatro segundos.
- Espero que esse seja o início de uma grande amizade. – Sugeriu Pedro.
- Eu jamais quero perder a amizade de alguém que tem tanto a ver comigo.
- Tenha uma ótima noite no seu quarto aquecido artificialmente! Qualquer coisa me liga, tens meu cartão, não é?
- Tenho sim, pode deixar... - disse ela sorrindo.

Nos primeiros dias, ela relembrava o abraço antes de dormir. Como seria bom receber um abraço assim todos os dias. Não haviam deixado nada marcado, mas o fato de ele citar que ela poderia ligar se desejasse, deixava o caminho aberto para marcarem um novo encontro.
Sábado chegou e Lívia pensou em fazer a ligação. Mas antes disso, sua tia Susi ligou avisando que viria passar o final de semana.
Com o coração apertado de saudades de Pedro, Lívia disse a tia que adoraria receber a visita, afinal não havia como dizer não.
Pedro levava o telefone onde quer que fosse. Aguardando a ligação. Chegava a atender com voz de desânimo quando o telefone tocava e ele via que não era Lívia.
O final de semana passou, Lívia e a tia Susi se divertiram muito no apartamento, comendo pipoca e olhando filmes. Lívia descreveu passo a passo tudo que acontecera desde que conheceu Pedro. Susi ficou empolgada em ver que a sobrinha estava abrindo espaço para um novo amor.
Na segunda-feira Lívia chegou à parada e ônibus no mínimo meia hora antes, mas Pedro não estava no escritório da Empresa. O ônibus logo veio e ela chegou mais cedo no trabalho. Organizou suas coisas o mais rápido que pode e procurou sem sucesso o cartão de Pedro. Não estava na gaveta onde havia deixado, nem em nenhuma das outras, não estava na bolsa, nem em nenhum outro lugar. Quando chegou em casa também procurou em todos os lugares possíveis, mas não achou.
“Será que é um aviso? Talvez não seja pra eu ligar...”, pensava ela - desanimada, foi dormir, e nem lembrou de colocar seu celular para despertar.
Quando abriu os olhos Lívia viu que estava mais claro que o normal. Olhos no relógio e percebeu o atraso. Levantou correndo, e fez em dez minutos o que fazia em quarenta.
Chovia tanto que as ruas estavam alagadas, e menos de um minuto já estava com os pés molhados. Antes de dobrar a esquina para chegar à parada viu ônibus partindo. Tentou gritar e acenar, mas não adiantou. Iria chegar com pelo menos uma hora de atraso no trabalho, baixou a cabeça, sacudindo-a negativamente:
- Só falta agora eu pegar um resfriado por ficar com os pés molhados todo este tempo.
- Quer uma carona moça? – Disse Pedro, com o vidro do carro aberto apenas alguns centímetros.

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